"Sempre" Paulo Coelho
Revista Mais - Edição 6 - Ano I

Jamile Ferreira


 
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Alvo de elogios e críticas passionais, Paulo Coelho não poderia passar ileso por essa coluna. Carioca de 57 anos, mago, diretor de teatro, compositor, jornalista e escritor desde 1982, baseia sua obra atual – o Zahir – numa tradição islâmica. “Zahir” é uma palavra de origem árabe que significa visível, presente, como uma idéia fixa que domina o pensamento até que se conquista a descoberta.

Um escritor recebe a notícia de que sua esposa desapareceu. Logo, ele precisa descobrir o que aconteceu a Esther (personagem inspirada em Christina, sua esposa na vida real), o motivo real do sumiço, o que havia de errado no relacionamento entre eles e o papel de uma outra pessoa na vida de sua mulher, que influenciaria profundamente a sua própria vida.

Nessa obra, Paulo Coelho não foge à regra: diálogos insossos, alegorias superficiais e uma linguagem fraca que chega a insultar a capacidade do leitor. A personagem do “escritor” possui muito do próprio autor, principalmente o exercício do ego, que sempre se apresentou muito ferido por ser incompreendido pela crítica – qualquer semelhança não parece ser mera coincidência.

As críticas fervorosas não são gratuitas. É extremamente fácil ler Paulo Coelho, o que não figura aqui como um elogio, já que sua estrutura lingüística é simplória - e não simples, tornando alguns momentos apenas uma forma rebuscada de ler sugestões de “Minutos de Sabedoria“; também um sucesso da literatura nacional, reservada a devida ironia.

A título de curiosidade, o articulista Gabriel Perrissè, relatou em sua matéria para o site “Observatório da Imprensa” sua surpresa em relação à quantidade infindável do advérbio “sempre” no livro: são 206 inserções em 316 páginas – média de uma palavra a cada duas páginas. Mas num país onde o refrão de uma música é “lirirrixa, dibaleia” (Babado Novo), talvez isso não seja tão relevante a princípio.

Suas obras se valem de espetaculares cenários internacionais, onde a valorização do Brasil é raríssima. Mas há que se dar a César o que é de César: o autor celebra mais de 65 milhões de livros vendidos em 150 países, traduzido para 56 línguas, com prêmios em 7 países. Não é possível que números tão expressivos acobertem um “picareta”, como costura ser insultado por críticos mais viscerais.

Segunda a revista francesa “Lire”, Paulo Coelho foi o segundo escritor mais vendido do mundo em 1998 e seu nome consta no livro dos recordes com a obra ”O Alquimista”, traduzida em 53 idiomas e que será filmada pela Warner Bros (em fase de pré-produção), com Laurence Fishburne (Matrix), Jeremy Irons (Perdas e Danos) e Madonna (Evita). E em se tratando de celebridade, Paulo Coelho está em graças: Bill Clinton e Sharon Stone são algumas das celebridades que se declaram leitores assíduos.

E quanto mais a crítica o crucifica, mais ele vende, tanto no Brasil, quanto no exterior, onde conquistou o gosto dos franceses, junto a Danielle Steel (“5 dias em Paris”), por exemplo. Sua atual moradia é “no meio das montanhas dos Pirineus, na fronteira entre a França e a Espanha”, segundo o mesmo, e o lançamento do livro (145 mil exemplares só na França) foi realizado no restaurante “Chalet des Iles”, em Paris.

Dividindo a sala com nomes como Lygia Fagundes Telles, Sábato Magaldi e Ariano Suassuna, Paulo Coelho ocupa a cadeira número 21 da Academia Brasileira de Letras, em disputa com o sociólogo Hélio Jaguaribe, que pertenceu ao economista Roberto Campos.

Dizer que a obra de Paulo Coelho não é literatura é um excesso: são histórias edificantes e iniciáticas, visando o aperfeiçoamento do ser humano, sugerindo abrir mão de paradigmas e assumir objetivos, sem a exploração gratuita de violência ou sexo.

Assim como o pequeno mago “Harry Potter”, as obras evoluem a partir do conceito de que a realidade não é apenas a tangível e controlável, possibilitando que o leitor expanda sua visão em relação ao mundo. E essa é a grande magia que sua leitura proporciona.

A questão não é apenas ler, mas também o que ler. Não basta incentivar à leitura; é preciso discuti-la em relação à sua qualidade, à proposta do autor, à cultura onde ela se realiza, pois é a formação intelectual que está sendo trabalhada, e não o exercício vazio do ego ou uma disputa de vendas.

Escrever é um ato de coragem que exige responsabilidade por parte do autor e criticar é respeitar as coerências sem deixar passar, de forma inadvertida, a existência de falhas.

Quanto ao público, fica a responsabilidade pelas escolhas literárias, para que não exista “subliteratura” e que nossas possibilidades caminhem muito além dos desertos.

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