A Casa de Bernarda Alba

Jamile Ferreira

 
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A peça “A Casa de Bernarda Alba”, de Frederico Garcia Lorca, está sendo encenada no Teatro Universitário da UFMG, Rua Carangola, n° 300, Bairro Santo Antônio, aos sábados e domingos, às 18:30hs, sob a direção de Fernando Mencarelli.

A peça é uma tragédia onde há transgressão de “leis” pela busca desesperada ao desejo.

Num universo feminino e feminista, a opressora é Bernarda Alba – mulher dura e mantenedora de uma conduta severa perante uma sociedade hipócrita – que não permite o desejo às suas 5 filhas, até que a filha mais nova (Adela) desobedece a lei de luto imposta por sua mãe pela morte de seu pai, e se entrega totalmente ao desejo de possuir e ser possuída por seu amor.

Dando vida a essa história, Lorca usa intrigas, desencontros, simbolismos, poesias metafóricas, tornando-a sensual, dramática e envolvente.

Fernando Mencarelli faz adaptações ao texto original sem que este perca a qualidade e força já presentes; no texto original, a peça é totalmente feminina e o diretor, num feito brilhante, incluiu 5 atores que fazem com que a representação da lascívia se torne latente no espetáculo.

Mencarelli inclui os atores recitando poesias de Lorca - ponto alto para o público feminino que solta suspiros apaixonados - subjetivando toda a sensualidade reprimida na casa e a disputa de poder entre as personagens.

O espetáculo tem duração de 2 horas bem distribuídas onde o público anda pela casa de Bernarda Alba, mas com um detalhe – dentro da casa só entram as mulheres. Homens ficam dentro de um pátio em um nível inferior ao das mulheres. Isso faz com que o público participe e sinta o que se passa no universo de cada personagem, gerando curiosidade e atraindo total atenção e interesse.

O cenário é a casa tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal conhecido como “Coleginho” da FAFICH. O espaço é bem empregado e o figurino muito apropriado, com cores fortes e escuras, refletindo a atmosfera na qual a peça se desenrola.

A trilha sonora é incidental, dando ênfase aos sentimentos das personagens, sem roubar-lhes a cena. Pela intensidade e ritmo da peça, a trilha sonora pode passar desapercebida. A iluminação está sincronizada e condizente a cada cena representada.

O elenco - formandos do Curso de Atores do Teatro Universitário da UFMG - dá um show à parte. Entre as mulheres, destacam-se Gioconda Bretas e Rô Gontijo. Como há freqüente troca de papéis entre as demais atrizes do grupo, é possível notar a dificuldade de se livrar do personagem anterior, sendo difícil a distinção entre elas. Quanto aos homens, sobressaem Paulo Fernandes e Cláudio Costa Val – com uma surpreendente interpretação de um cavalo em fúria.

O teatro mineiro, tão sobrepujado pelo trabalho de paulistas e cariocas, recebe “A Casa de Bernarda Alba” como um presente por sua qualidade de adaptação ao texto, direção e elenco. A ‘casa’, como o próprio elenco afirma, não está totalmente preparada ou construída – precisa de revisões, aprimoramentos e ajustes - e o público ajudará, e muito, na construção desta casa, valorizando o teatro mineiro e comprovando a qualidade das “coisas de Minas”.

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